Amor eterno...

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sexta-feira, março 17, 2006

Joäo. Quem foste? Quem és? Quem serás?

"Amigo Joäo"...

É curioso como o nosso cérebro por vezes nos pode pregar partidas. É-me dito que quando era pequena tinha um amigo imaginário. O Joäo. Näo me lembro dele, mas se o tive foi porque dele necessitei. Lembro-me da Sílvia, que por vezes se tornava o mau alter ego. Lembro-me que ela me acompanhava nos meus trabalhos escolares. Lembro-me da Sónia, inimiga comum minha e da Sílvia. A Sónia que näo trabalhava e era trapaceira.


Lembro-me de todas estas personagens fictícias que povoaram a minha infância.

Mas näo me lembro de ti, Joäo. Quem és? Quem foste? Porque apareceste na minha vida? Porque dela te foste embora? Magoei-te de alguma maneira? Näo o sei.

A grande questäo é porque me terei esquecido de ti. Vasculho nas profundezas da minha mente, procuro qualquer vestígio, qualquer traço que a ti me conduza, mas näo encontro.
Que vivências teermos partilhado? Que estroinices teremos vivido juntos?

Quem és, Joäo?

Sim. Quem és. Porque näo acredito que me tenhas abandonado. Apenas estás num sítio obscuro e recôndito do meu pensamento, da minha mente, e nÄo sou já capaz de te encontrar. Mas sei que aí estás. Acredito nisso.

Se apareceste na minha vida, terá sido porque precisei de ti. Se me esqueci täo profundamente de ti, será talvez porque as circunstâncias que me levaram a precisar de ti podem ter sido fortes. E inconscientemente posso ter optado por te recalcar, para me obrigar a esquecer-te, para me obrigar a superar o que quer que se tenha passado e que a ti me conduziu. (Ou será melhor dizer, que a mim te conduziram?...)

Mas porque me esqueci de ti, e näo de todas as minhas outras companhias?

Näo sei.

Mas sei que gostaria de te reencontrar uma vez mais nesta vida de doidos, nesta vida de stress, em que quem tem amigos como tu é considerado doente mental. Näo o considero. Quantos amigos teve Fernando Pessoa, esse grande génio!

Mas a dúvida persiste.

Porque te abandonei eu?

Será aida possível reencontrarmo-nos? Recuperarmos uma amizade?

Näo sei quem tu és, Joäo. Mas gostava de te conhecer... Gostava de voltar à minha infância e brincar contigo. Fazer de ti o confidente que tantas vezes me faltou.

Fico à espera. Mas sei que tal desejo, tal aspiraçäo, näo poderá ser realizada.

Hoje sou adulta. Tenho amigos, ainda que poucos. Tenho uma vida própria, e nela infelizmente parece näo haver lugar para ti. Só assim explico o facto de näo conseguir lembar-me de quem foste e do que significaste para mim. Sei que näo poderemos voltar a brincar juntos, ou a falar. Sei que o tempo näo volta atrás. Corre sempre, como um rio, e se largamos algo que a determinado momento possuímos, esse rio näo voltará atrás, por muito que lhe peçamos, por muito que lhe roguemos.

Em que momento nos largámos? Em que momento cada um seguiu um ramal diferente deste rio que é o Tempo, que desagua no mar da Vida e no oceano das Emoçöes?

Jung disse "A vida que näo é vivida é uma doença da qual se pode morrer". Eu vivo a minha, bem ou mal, e sei que onde quer que estejas, também vives a tua.

Apesar de näo saber quem és, apesar de näo me lembrar de ti, apesar de näo me lembrar do que representaste para mim, sei que se o fizeste foi porque eu realmente o necessitei.

E por isso o meu obrigada, Joäo. Sejas tu quem fores, muito obrigada por a dada altura teres estado comigo, amenizando as arestas da minha infância, polindo as pedras dos caminhos por onde eu passava, dando um pouco de calor humano a cada sala onde eu entrava.

Eu sou feliz.

E sei que provavelmente, neste momento, voltaste a ser novo, vivo, traquinas, e estás a tornar a vida melhor a qualquer outra criança que de ti precisa.


Rascunhos antigos