Sendo aluna do Ensino Superior nesta época em que tanto se fala do Processo de Bolonha, do Espaço Europeu do Ensino Superior e estando a realizar um semestre de Erasmus na Universidade de Santiago de Compostela, Espanha, não posso deixar de manifestar a minha opinião, contrapondo dois sistemas de ensino e dois universos que são completamente diferentes.
Nesta Universidade onde tenho o privilégio de estudar no período de tempo Fevereiro-Julho de 2006, tudo é diferente da Évora!
Começando, por exemplo, pela própria divisão do tempo lectivo. Semestres portugueses enfrentam-se aos quadrimestres espanhóis. Não é algo nem melhor nem pior, apenas uma organização diferente, o que vai ter repercussões a nível de início e de fim das aulas, bem como a nível de exames.
Há diferentes opiniões, pois a História cada um a interpreta de maneira diferente, e revela-se extremamente útil e interessante confrontar as opiniões que vi em Évora com as opiniões que vejo aqui.
Em termos de avaliação... a exigência é muito superior à de Évora, embora os professores sejam acessíveis. Apenas nos exigem que façamos aquilo que no fundo pagamos para fazer: estudar. É impensável entregar-se um trabalho fora do prazo estipulado no primeiríssimo dia de aulas. ”Deadline” adquiriu para mim um sentido que até agora não havia adquirido. É uma das maiores diferenças que encontrei aqui em Santiago... sei que em Évora, se apresentar uma explicação plausível, me dão a possibilidade de poder ter mais uns dias para entregar o trabalho que me foi atribuído. Em Santiago não. Vi companheiros meus a quem os trabalhos foram pura e simplesmente rejeitados porque em vez de entregarem dia 1 de Maio – feriado!, os entregaram dia 2. Temos todos que nos organizar muito bem para que no fim não fiquemos com uma impressão de afogamento e sufoque.
Em relação aos trabalhos, também existe muito o conceito de trabalhos “voluntários”... mas em que acabamos por ser prejudicados se não os fizermos e se não os apresentarmos à turma. Somos penalizados em 1,5 valores sobre 10 (transpondo para a escala de avaliação portuguesa, se não fizermos os trabalhos “voluntários” o máximo que podemos esperar obter na cadeira serão 17 valores). Mas continuam a ser voluntários...
Quanto às aulas em si, não diferem muito de Portugal.
Somos chamados a dar a nossa opinião, temos aulas práticas todas as semanas. A única coisa em que se calhar aqui se é mais dinâmico é no tipo de aulas práticas. Somos muitas vezes aconselhados a ir a exposições, ou a ler diferentes tipos de literaturas, ou a ver vários documentários filmes, estando esta preparação na base dos comentários e das aulas, que assim se tornam mais interessantes.
No entanto, uma experiência de Erasmus não se sente apenas no ambiente escolar. Há toda uma série de aspectos que nos enriquece enquanto pessoas.
Aprendemos a dar mais valor ao nosso país do que quando aí estamos... é verdade que é quando estamos mais longe de algo que mais lhe sentimos a falta!
Há uma enorme solidariedade entre todos os portugueses que aqui estudam. Muitos são do Porto, e é incrível ver aos fins de semana a verdadeira “máfia” que se estabelece na busca de uma boleia barata para o norte de Portugal. As pessoas unem-se, dão boleia a quem nunca viram antes, divide-se a gasolina, estabelecem-se contactos...
A vida social é imensamente engrandecida. Conhecem-se amigos para a vida. Trocam-se números de telefone, endereços de e-mail, com pessoas completamente diferentes de nós.
Algo de que estou a beneficiar imenso é da vida numa residência universitária. Sim, todos nós gostamos de estar à nossa vontade, afinal somos adultos, sabemos cuidar da nossa vida, não precisamos que nos digam o que fazer e quando o fazer, se queremos estar até às 2 da manhã a tomar um café devíamos ter direito a isso...
No entanto, há opções que se têm que tomar, e quando se vai estudar para um país diferente, a quase 900 km de casa, é bom estar-se numa residência. Não há tempo para solidão, não há tempo para tristezas. Há sempre alguém na biblioteca, na sala, na cozinha. Há sempre alguém com quem se conversar até às 7 da manhã (sim, porque temos de compensar os horários rígidos de entrada à noite de alguma maneira...), há sempre alguém que nos faz rir. As regras a que temos que obedecer são um mal menor, pois as vantagens de se viver num sítio assim são muitas. Embora seja verdade que também faz com que haja uma grande parte da vida de Santiago que não se chega a conhecer... tunas, coros, discotecas, teatro... é verdade que não aproveitamos a 100%, mas continuo a dizer que a vida em residência nos forma muito mais e nos ajuda muito mais a superarmos os desafios quotidianos do que se morássemos sozinhos.
Amigos, estudos, alegrias, tristezas, festas, saudades...
É tudo algo que sem dúvida faz parte do Erasmus, e que devemos aproveitar. A vida é curta, há que saber aproveitá-la.
E este programa europeu ensina-nos a aproveitar todos os bocadinhos que passamos num país diferente. São momentos intensos, porque se sabe que apenas acontecem uma vez na vida, não voltarão mais. E isso compele-nos a aproveitá-los de uma maneira muito mais enérgica, muito mais vivida.
No geral, posso dizer que esta está a ser sem dúvida a melhor experiência da minha vida. Estou a crescer, todos os que participam num Erasmus o fazem. Arranjei novas amizades, novos conhecimentos, novas experiências, vejo diariamente novas maneiras de lidar com situações corriqueiras, aprendo diariamente uma nova palavra em galego.
A cada dia que passo, sei um pouco mais que no dia anterior, pois estou a viver algo que nunca vivi e que nunca mais viverei. E são estes momentos únicos, acredito, que me marcarão para a vida.
E ao Erasmus o devo.
Ana Rita Faleiro
Estudante do 4º ano de História – Variante de Arqueologia
Há 1 mês
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