Saiu hoje uma notícia à qual eu não podia deixar de fazer referência, mais ou menos válida consoante os pontos de vista.
Ao que parece, um pequeno número (apenas cerca de 15.000…) assinaturas foi serão entregues na Assembleia da República, de maneira a que se reveja a lei e se possa responsabilizar os pais pela vida escolar dos filhos: “Pela responsabilização efectiva das famílias nos casos de absentismo, abandono e indisciplina escolar”.
Não podia deixar de fazer referência a isto por uma simples razão. Há questão de dois anos (mais coisa menos coisa), deixei uma postagem neste blog sobre as políticas que a Ministra da Educação estava a tomar; dentro dessas políticas, encontrava-se uma que estipulava que os Senhores Professores teriam que passar horas a fio na escola, independentemente da sua situação profissional à altura de tal medida lhes permitir o contrário. Muitas mais políticas contra esta classe foram sendo tomadas. Vezes e vezes sem conta, os professores foram sendo atacados, vitimizados, foram-lhes sendo retirados direitos fundamentais e cada vez mais se esperou (e ainda se espera) que fossem mais “secretários” do que propriamente professores. Quanta burocracia, relatórios, planificações do ar que se respira… mas afinal, eu, na minha ingenuidade (e não sou professora!), encontro-me no direito de perguntar: eles são professores e têm como dever ensinar… ou afinal de contas eu vivo mesmo no meu mundo muito próprio e não me dei conta de que eles são na verdade pessoas altamente especializadas em preencher papelada, sendo a actividade docente apenas um hobbie?? Perdoem esta tentativa de sarcasmo, mas a verdade é que não entendo muito bem o que se pretende que os nossos Professores façam. Este fim de semana, em conversa com uma Professora, ouvi dizer “tenho tantos papéis para preencher que nem sei por onde começar… as planificações e relatórios de actividades que fiz em Novembro porque eram interessantes para os alunos ainda não estão feitos, é impossível”. Claro que é impossível. É curioso notar que o importante começa a ser não o que se ensina e o que se transmite, nem tão-pouco a forma como se transmite, mas sim os papéis, os relatórios, as planificações, tudo numa vã tentativa de fazer passar para o exterior uma imagem do que não se é: organizados. Tudo numa tentativa irrealista de se tentar atirar areia para os olhos nem sei muito bem de quem. Sim, porque eu posso ser muito ingénua, muito inocente, muito tudo o que vocês entenderem chamar-me. No entanto, não me convenço de que uma actividade se torna melhor apenas porque há um papel amarelecido num dossier bolorento no meio de uma sala coberta de teias de aranha que mostra como foi planificada e que tem lá uns relatórios, muitas vezes forçados (porque na realidade quase inúteis…), do que se conseguiu. Que querem, sou estranha e tenho as minhas convicções…
Mas o que a senhora ministra na altura se esqueceu (ou não lhe foi conveniente lembrar…) é que esta classe que ela ataca sem dó nem piedade (que recalcamentos terá ela para com os seus professores?? Dá que perguntar…) cometeu um grave crime… muitos membros desta classe são pais!
Mas não falamos apenas desta ministra iluminada. Falamos de todos os governantes, que fazem leis como quem pinta um quadro surrealista, em que as coisas da nossa imaginação fluem livremente não são obrigadas a fazer sentido.
Não percebo que um governo para o povo governe na realidade contra o povo. Não é preciso alongar-me muito sobre esta questão porque todos nós ligamos a televisão e sentimos vergonha dos nossos “governantes”. Se o exemplo vem de cima, que exemplo é que eles nos estão a dar? Corromper as pessoas? Comprar inocências? Aldrabar? Não entendo, a sério que não…
É que estes senhores esqueceram-se que os papás que são afectados por todas estas leis ficam muitas vezes com pouquíssimo tempo para estar em casa e acompanhar os seus filhos. Isto parece-me tão óbvio que não entendo que tenha que ser explicado!
Quando os pais não conseguem estar em casa, quando não conseguem acompanhar os seus filhos, quando não os conseguem educar (não porque sejam incapazes mas porque simplesmente precisam de trabalhar para comer), não é de estranhar que se comece a assistir a um fenómeno cada vez mais frequente: para compensar a falta de atenção e de carinho e de amor e de educação, oferece-se o que as crianças querem, porque assim pode ser que elas nos desculpem não estarmos com elas para partilhar coisas “corriqueiras” como joelhos esfolados, um “Muito Bom” num teste, uma audição da escola de música, um primeiro encontro, e coisas menos corriqueiras como ataques na escola, perseguições…
Quando não se está em casa porque se trabalha, não se pode castigar nem educar. E uma criança não nasce ensinada, nem educada. É um processo cultural de aprendizagem (pelo que o que é educação num sítio do planeta pode ser visto como falta de respeito noutro… mas isso far-nos-ia entrar por caminhos que não são o propósito desta postagem). Já dizia o nosso poeta popular que “Não sou rude nem bruto, nem bem nem mal educado,sou apenas o produto do ambiente em que fui criado”.
As consequências sociais das medidas que o governo tem tomado começam a revelar-se agora, já que as crianças que aqui há poucos anos não puderam ser educadas nem castigadas nem amadas e acarinhadas pelos seus pais, tendo-se assim revestido de uma falsa sensação de autonomia e liberdade, são os adolescentes rebeldes, arrogantes, problemáticos de hoje em dia. Nunca se perguntaram porque razão a violência escolar começa a ser um problema mais e mais presente na sociedade portuguesa? Casos como o da aluna do Carolina Michaelis há às centenas… mas só agora começam a saltar perante os olhos do público. É esta sensação de impunidade que é preciso alterar!
Evidentemente que os pais precisam de estar ligados à vida escolar dos filhos, não se pode esperar que apenas os professores sejam responsáveis (isso dava pano para manga para eu continuar a divagar… que dizer por exemplo sobre a competência de um professor ser avaliada em termos quantitativos, baseando-se nas negativas que dá aos seus alunos? Um professor bom é aquele que passa todos? Ou aquele que é exigente, que só passa se eles merecerem? Mais uma vez, eu devo viver no meu mundo muito próprio…).
Daí que esta petição seja importante, para alertar a Assembleia da República que Portugal enfrenta um grave problema social. Se as crianças de há dois anos são os adolescentes de hoje, não deveremos aprender com os nossos erros e perceber que estes adolescentes serão os adultos de amanhã? Os médicos, professores, advogados, banqueiros, políticos, juízes, de amanhã? Que futuro estamos a construir para nós? É um círculo vicioso, no fundo, e torna-se cada vez mais difícil sair dele.
No entanto, o que é preciso perceber é que para estes pais poderem ser responsabilizados, têm que ter por trás um apoio social que lhos permita.. porque nenhum ser humano que saia de casa de manhã e regresse à noite tem capacidade ou resistência para fazer mais. Por muito que a vontade o dite, por muito que se saiba que é necessário fazer-se mais. Não dá, muitas vezes.
Ana Rita Faleiro
08 de Abril de 09
Ao que parece, um pequeno número (apenas cerca de 15.000…) assinaturas foi serão entregues na Assembleia da República, de maneira a que se reveja a lei e se possa responsabilizar os pais pela vida escolar dos filhos: “Pela responsabilização efectiva das famílias nos casos de absentismo, abandono e indisciplina escolar”.
Não podia deixar de fazer referência a isto por uma simples razão. Há questão de dois anos (mais coisa menos coisa), deixei uma postagem neste blog sobre as políticas que a Ministra da Educação estava a tomar; dentro dessas políticas, encontrava-se uma que estipulava que os Senhores Professores teriam que passar horas a fio na escola, independentemente da sua situação profissional à altura de tal medida lhes permitir o contrário. Muitas mais políticas contra esta classe foram sendo tomadas. Vezes e vezes sem conta, os professores foram sendo atacados, vitimizados, foram-lhes sendo retirados direitos fundamentais e cada vez mais se esperou (e ainda se espera) que fossem mais “secretários” do que propriamente professores. Quanta burocracia, relatórios, planificações do ar que se respira… mas afinal, eu, na minha ingenuidade (e não sou professora!), encontro-me no direito de perguntar: eles são professores e têm como dever ensinar… ou afinal de contas eu vivo mesmo no meu mundo muito próprio e não me dei conta de que eles são na verdade pessoas altamente especializadas em preencher papelada, sendo a actividade docente apenas um hobbie?? Perdoem esta tentativa de sarcasmo, mas a verdade é que não entendo muito bem o que se pretende que os nossos Professores façam. Este fim de semana, em conversa com uma Professora, ouvi dizer “tenho tantos papéis para preencher que nem sei por onde começar… as planificações e relatórios de actividades que fiz em Novembro porque eram interessantes para os alunos ainda não estão feitos, é impossível”. Claro que é impossível. É curioso notar que o importante começa a ser não o que se ensina e o que se transmite, nem tão-pouco a forma como se transmite, mas sim os papéis, os relatórios, as planificações, tudo numa vã tentativa de fazer passar para o exterior uma imagem do que não se é: organizados. Tudo numa tentativa irrealista de se tentar atirar areia para os olhos nem sei muito bem de quem. Sim, porque eu posso ser muito ingénua, muito inocente, muito tudo o que vocês entenderem chamar-me. No entanto, não me convenço de que uma actividade se torna melhor apenas porque há um papel amarelecido num dossier bolorento no meio de uma sala coberta de teias de aranha que mostra como foi planificada e que tem lá uns relatórios, muitas vezes forçados (porque na realidade quase inúteis…), do que se conseguiu. Que querem, sou estranha e tenho as minhas convicções…
Mas o que a senhora ministra na altura se esqueceu (ou não lhe foi conveniente lembrar…) é que esta classe que ela ataca sem dó nem piedade (que recalcamentos terá ela para com os seus professores?? Dá que perguntar…) cometeu um grave crime… muitos membros desta classe são pais!
Mas não falamos apenas desta ministra iluminada. Falamos de todos os governantes, que fazem leis como quem pinta um quadro surrealista, em que as coisas da nossa imaginação fluem livremente não são obrigadas a fazer sentido.
Não percebo que um governo para o povo governe na realidade contra o povo. Não é preciso alongar-me muito sobre esta questão porque todos nós ligamos a televisão e sentimos vergonha dos nossos “governantes”. Se o exemplo vem de cima, que exemplo é que eles nos estão a dar? Corromper as pessoas? Comprar inocências? Aldrabar? Não entendo, a sério que não…
É que estes senhores esqueceram-se que os papás que são afectados por todas estas leis ficam muitas vezes com pouquíssimo tempo para estar em casa e acompanhar os seus filhos. Isto parece-me tão óbvio que não entendo que tenha que ser explicado!
Quando os pais não conseguem estar em casa, quando não conseguem acompanhar os seus filhos, quando não os conseguem educar (não porque sejam incapazes mas porque simplesmente precisam de trabalhar para comer), não é de estranhar que se comece a assistir a um fenómeno cada vez mais frequente: para compensar a falta de atenção e de carinho e de amor e de educação, oferece-se o que as crianças querem, porque assim pode ser que elas nos desculpem não estarmos com elas para partilhar coisas “corriqueiras” como joelhos esfolados, um “Muito Bom” num teste, uma audição da escola de música, um primeiro encontro, e coisas menos corriqueiras como ataques na escola, perseguições…
Quando não se está em casa porque se trabalha, não se pode castigar nem educar. E uma criança não nasce ensinada, nem educada. É um processo cultural de aprendizagem (pelo que o que é educação num sítio do planeta pode ser visto como falta de respeito noutro… mas isso far-nos-ia entrar por caminhos que não são o propósito desta postagem). Já dizia o nosso poeta popular que “Não sou rude nem bruto, nem bem nem mal educado,sou apenas o produto do ambiente em que fui criado”.
As consequências sociais das medidas que o governo tem tomado começam a revelar-se agora, já que as crianças que aqui há poucos anos não puderam ser educadas nem castigadas nem amadas e acarinhadas pelos seus pais, tendo-se assim revestido de uma falsa sensação de autonomia e liberdade, são os adolescentes rebeldes, arrogantes, problemáticos de hoje em dia. Nunca se perguntaram porque razão a violência escolar começa a ser um problema mais e mais presente na sociedade portuguesa? Casos como o da aluna do Carolina Michaelis há às centenas… mas só agora começam a saltar perante os olhos do público. É esta sensação de impunidade que é preciso alterar!
Evidentemente que os pais precisam de estar ligados à vida escolar dos filhos, não se pode esperar que apenas os professores sejam responsáveis (isso dava pano para manga para eu continuar a divagar… que dizer por exemplo sobre a competência de um professor ser avaliada em termos quantitativos, baseando-se nas negativas que dá aos seus alunos? Um professor bom é aquele que passa todos? Ou aquele que é exigente, que só passa se eles merecerem? Mais uma vez, eu devo viver no meu mundo muito próprio…).
Daí que esta petição seja importante, para alertar a Assembleia da República que Portugal enfrenta um grave problema social. Se as crianças de há dois anos são os adolescentes de hoje, não deveremos aprender com os nossos erros e perceber que estes adolescentes serão os adultos de amanhã? Os médicos, professores, advogados, banqueiros, políticos, juízes, de amanhã? Que futuro estamos a construir para nós? É um círculo vicioso, no fundo, e torna-se cada vez mais difícil sair dele.
No entanto, o que é preciso perceber é que para estes pais poderem ser responsabilizados, têm que ter por trás um apoio social que lhos permita.. porque nenhum ser humano que saia de casa de manhã e regresse à noite tem capacidade ou resistência para fazer mais. Por muito que a vontade o dite, por muito que se saiba que é necessário fazer-se mais. Não dá, muitas vezes.
Ana Rita Faleiro
08 de Abril de 09