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quinta-feira, setembro 22, 2011

Da importância dos sonhos

Nos dias de hoje, apenas se fala da crise, da crise, de como isto está mal, da crise, da falta de emprego, da falta de condições de vida.
Sim, está tudo muito mal, é verdade.
Mas será isso razão para uma pessoa deixar de sonhar?
Será isso razão para uma pessoa deixar de acreditar que é possível arranjar maneira de dar a volta à situação?
Será um crime assim tão grande manter-se o optimismo?
Sim, é verdade, neste momento estou um bocado na corda bamba, em relação ao trabalho. Só tenho 10h de aulas, não tenho certezas de quando ou sequer se saem os horários na outra escola, tenho muitas suspeitas de que há qualquer coisa mais que está a impedir a publicação das ofertas de escola, tenho que fazer muitas contas à vida, mais do que fiz durante estes 26 anos, sei que apenas com a ajuda dos meus pais e dos pais do E. é que nós nos estamos a conseguir aguentar mais ou menos, sei que é preciso uma política de austeridade tal que até faz impressão.
Mas apesar de tudo estou feliz. Consigo acreditar no futuro.
De que me servia estar num emprego "certo" (se é que tal palavra se pode aplicar hoje em dia a qualquer área), com um bom ordenado, com dia de receber fixo, se depois ia ficar tão triste e deprimida que ficaria doente?
De que me servia isso?
Portanto, arrisquei.
Saí de um sítio que me fez mais mal do que bem, um sítio onde só de pensar que à segunda feira tinha que estar lá, ficava doente aos domingos à noite. Um sítio onde só chorava de frustração, onde fui mal tratada, onde me roubaram ideias e projectos, onde me ignoraram completamente, onde me barraram nas iniciativas que tinha. Um sítio que me marcou tanto tanto tanto que ainda hoje tenho pesadelos sufocantes com ele.
Arrisquei, saí dali, fui dar aulas.
Nem tudo foi um mar de rosas. Comecei a perceber os problemas que há nos conservatórios, a falta de financiamento que leva a que os professores estejam meses sem receber, e ao mesmo tempo a capacidade que têm de continuar pelos alunos.
Saí do primeiro sítio onde estive a dar aulas porque não tinham capacidade de pagar, e por muito que eu gostasse dos meus alunos, eu não tinha possibilidades de estar fora de casa a trabalhar e sem receber para cobrir as minhas despesas.
Fui para Portimão, fui para Olhão. Dava 43h semanais de aulas. Chegava a meio da semana sem saber o meu nome, andava cansada mas feliz.
Nunca ganhava o mesmo cada mês; apesar de em Portimão ter um ordenado mais certo, por ser uma escola do Estado, nunca sabia quanto ia ganhar em Olhão. Mas andava feliz.
Hoje estou feliz.
Sim, ainda não tenho nada certo, não sei quanto vou ganhar, sei que vou andar muito e muito tempo a fazer contas à vida e a viver nesta política de austeridade.
Mas estou feliz.
Faço o que gosto, ensino o que gosto.
E se não conseguir mais horas, não tenho problemas em arranjar um part-time seja onde for, seja a fazer o que for, porque sei que será sempre um mero interlúdio até conseguir novamente um horário mais decente no ensino.
Tenho muitos planos B.
E planos C.
E D.
E sei, sinto, acredito que vai tudo correr bem.
Por vezes, é necessário arriscar.
Porque por muito má que a situação esteja, se deixarmos de sonhar deixamos de viver. Passamos a simplesmente existir.
E com essa situação eu não me conformo.
Não preciso de muito para ser feliz.
Preciso apenas de acreditar.


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