Não podia deixar de partilhar este texto que encontrei no Facebook.
Autoria: Professora Helena Almeida.
“.. pois..
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Autoria: Professora Helena Almeida.
“.. pois..
Pelos vistos, todos.
Quando a classe se une;
quando a inércia se sacode;
quando a doentia tendência que os professores têm para cumprirem tudo,
aceitarem tudo sem um queixume - se transforma na revolta de quem já não
aguenta mais;
quando os professores tomam consciência do poder que detêm - e o exercem, o país treme.
Tremem os políticos ao verem escapar-se-lhes debaixo das garras
dominadoras a classe que (justificadamente, diga-se..) acreditavam mais
submissa, a mais sensível à chantagem emocional. Os direitos dos jovens,
pois claro!
Tremem os pais ao verem ameaçados .. basicamente, os seus organizadinhos planos de férias, pois que outra coisa?
Hipócritas, uns e outros.
Não os comovem as crianças com fome, a única refeição diária retirada
das escolas, a ASAE que há anos se pôs a medir batatas e encerrou ou
inviabilizou as boas cantinas escolares, agora reféns da normalizada
fast food de empresas duvidosas.
Não os comovem as escolas
fechadas, as crianças deslocadas, as escolas-fábrica em que cada aluno
não é sequer um número, o interior do país desertificado, as longas
viagens de e para casa, o tempo com a família, inexistente.
Não
os comovem os livros deitados fora, que deixaram de servir porque sim: o
novo programa de matemática para quê se o outro dava mostras de
funcionar, o (des)acordo ortográfico para benefício de quem..
Não os comovem os professores massacrados que lhes aturam os filhos todo
o dia, : «Já não sei o que fazer dele, dela.., em casa é a mesma
coisa.. »,
Não os comovem os alunos que querem aprender e não
podem, a indisciplina na sala de aula e os professores esgotados,
deprimidos, muitas vezes doentes, os professores que desabam a chorar no
meio da aula, a tensão, as pulsações que disparam e como é que se pode
ensinar assim?
Não os comovem os professores hostilizados
publicamente por ministras, escritores, comentadores, opinadores - e já
lá vão anos de enxovalhamento!
Não os comovem as políticas
aberrantes do ministério da Educação, as constantes alterações aos
curricula, aos programas, as disciplinas de uma hora semanal a fingir
que existem e os professores que se adaptam aos caprichos todos,
formações atrás de formações, obrigatórias todas, pagas do próprio bolso
algumas;
Não os comovem as condições de trabalho e de saúde de
quem lhes zela pelos filhos, as horas insanas passadas na escola, as
tarefas sem sentido e as outras, o tempo e a disposição que depois
faltam para tudo o resto que fazem em casa, preparar aulas, orientar
trabalhos, corrigir testes, as noites que não dormem e amanhã aguenta-te
que não são papéis que tens à frente, mas sim pessoas!
Não os
comovem vidas inteiras de andar 'com a casa às costas', 10, 20, 30 anos
contratados (dantes chamavam-se 'provisórios'), de Trás-Os-Montes ao
Algarve e é se queres ter emprego, SEMPRE assim foi até conseguirem um
lugar no quadro de efectivos numa escola - e agora aos 40, 50, à beira
de vínculo nenhum! - as regras que mudam, a reforma que se alonja, a
carreira de há muito congelada, os sucessivos cortes no salário, os
impostos uns atrás dos outros e depois ......
cara alegre que
tens a responsabilidade de ensinar, formar, educar os nossos jovens,
futuro deste país ou de outro para onde emigrem, será mais certo.
E eu digo, professora que fui, professora que serei sempre e já não vos
aturo: VÃO-SE FODER com as vossas preocupações da treta, a vossa
chantagem e as vossas ameaças, os vossos apelos aviltantes. E não, não
peço desculpa pela linguagem, que outra não há que dê a medida da raiva.
Quem é que vocês, políticos, associações de pais, pensam que são?
Vocês, que destroem tudo o que de bom se tinha conseguido neste país?
Que promovem o regresso à miséria, ao cinzentismo, à ignorância? Que se
estão borrifando para os alunos e as famílias, a qualidade do ensino nas
nossas escolas públicas? Que tiram ao estado para darem aos privados?
Que acabam com apoios onde eles eram vitais, aos alunos mais pobres, aos
alunos com deficiências? Que despedem psicólogos e professores do
ensino especial? Que, em exames, recusaram tempo extra aos alunos que a
ele tinham direito? Que não fazem nada para promover a educação, os
vossos podres serviços públicos reféns do vosso oportunismo, da vossa
falta de valores, do vosso cinismo?
Vocês, que atacam os
professores mas lhes confiam os vossos filhos? Que não os educam em
casa, mas esperam que eles o façam na escola? Que agora defendem a
"mobilidade especial" quando antes defendiam a estabilidade, se
queixavam de que as crianças mudavam de professores todos os anos? Que
não percebem que um professor maltratado é um profissional menos
disponível para os alunos que tem à frente? Que a luta dos professores é
a luta pelos vossos filhos, pela qualidade da sua educação, pelas
oportunidades do seu futuro?
E vocês, opinadores 'de bancada'
que continuam a achar que os professores trabalham pouco e ganham muito,
por que se queixam agora desta greve (três meses de férias, é?!),
quando nunca antes se queixaram das condições miseráveis em que vocês
próprios sempre viveram?
Por que não se queixam dos dinheiros mal-gastos destes políticos?
Por que não se queixam de um serviço público de televisão que vos
embrutece e vos torna prisioneiros de quem vos engana todos os dias, vos
impede de terem pensamento próprio?
Por que não se queixam da razia
deste governo sobre os funcionários públicos, dos serviços que vão
funcionar muito pior, das horas de espera que vão aumentar, nos
hospitais, nos centros de saúde, nos correios e nas repartições todas, a
'má-cara' de quem, maltratado, vos vai atender com pouca paciência e
muito cansaço?
A vocês, que pelos vistos não sabem o que é uma
greve, nunca vos vi defenderem os professores do vosso país. Vi-vos
aplaudirem uma ministra que vos 'ganhou', 'perdendo-os'. Vi-vos porem-se
contra eles, ao lado dos filhos que vocês não souberam nem se
preocuparam em educar. Vi-vos irem às escolas apenas para insultarem ou
ameaçarem os que nela todos os dias 'dão o litro' para que os vossos
filhos sejam melhores que vocês, tenham as condições de vida que vocês
não puderam ter.
Os professores não estão de férias, como vocês, que tudo julgam saber, gostam de apregoar.
Os Professores estão em greve. Finalmente!
Os Professores levaram anos a aguentar pauladas. Anos e anos a serem, eles, prejudicados.
Agora fazem greve, dizem BASTA!
Vocês, deviam fazer o mesmo, assim a educação que a escola pública vos
proporcionou vos tenha garantido sentido crítico, pensamento autónomo e
DIGNIDADE.”
(Helena Almeida)
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