Tenho uma história engraçada com aparelhos de dentes.
Muito engraçada.
Começou quando eu andava algures na 3ª ou 4ª classe, já não sei bem. Os meus dentinhos pediam um aparelho dentário porque estavam tortos, os maganos. Sim senhor, disse eu. Sim senhor, disse a minha mãe. E o aparelho voou para dentro da minha boca. Um aparelho daqueles móveis, estão a ver, que não nos deixam dizer os "ssss" nem os "rrrr", sai tudo ao estilo de "xxxx" ou "jjjjjj", é uma alegria. Também não nos deixam comer, temos que estar sempre a tirá-los, é uma chatice, e todas as semanas temos que os apertar com um ferrinho tão pequenino que é um mistério não se perder. Bem, pus o bom do aparelho. Fui assim o alvo de gozo dos colegas em Espanha, detestava estar com aquilo, doía como tudo... Um belo dia dei-o à minha Mãe para o guardar, enquanto eu ia não sei onde (não podia ser longe, tinha 7 anos ou lá o que era...). Descobri o aparelho no dia seguinte debaixo da roda do carro. Adeus aparelho.
Depois, já não sei quando exactamente, pus um segundo aparelho, primo do primeiro, e que queria mostrar que era mais valente, mais corajoso e que me conseguia domar. Não conseguiu... o coitado durou 2 dias... ou melhor dizendo, um dia e meio... chegou numa sexta-feira e, como não conseguia comer com ele, no sábado, quando fui ao restaurante comer um belo de um peixe grelhado na brasa que ainda hoje me faz salivar, esqueci-me do amigo aparelho num guardanapo e vuuuuuuuuuuum!, foi parar ao lixo.
Houve uma terceira tentativa, um sobrinho dos dois anteriores. Já não sei bem o que se passou com esse. Acho que depois de uma visita de estudo ao zoomarine ele deixou de estar visível no meu campo de visão. Não sei. Eclipsou-se.
Quanto ao quarto, reformou-se quando cheguei ao 10º ano. Não aguentou os meus dentes ainda tortos e chatos, e, tímido como era, não se quis mudar comigo para a escola secundária de Tavira. Fez uma birra tão mas tão grande que tive que o deixar na caixa de plástico de cor azulão forte, daqueles "liiindos", estão a ver? E os meus dentes continuaram à solta.
Quando acabei o secundário, resolvi declarar guerra aos dentes tortos. Ah, agora é que ia ser! Coloquei um aparelho fixo, com os elásticos multi-colores (sim, que a vida é para ter as cores do arco-íris, vale lá a pena ser monocromática...).
Epá... foram os 4 anos de maior sofrimento na minha vida: os arames furavam as bochechas, os breckets saltavam, como não podia perder este tipo de aparelho engoli 2 ou 3 breckets, as guias magoavam, durante uma semana não podia sequer tocar com a língua nos dentes (a conclusão óbvia é que durante uma semana andei caladinha que nem um rato, não podia mesmo falar!), os fotógrafos mandavam-me estar de boca fechada nas fotografias, o que se saldava em fotos tipo passe em que apresentava uma cara no género "será que deixei o forno de casa ligado?", cada vez que ia ao dentista saía de lá com a boca toda dormente... foi uma festa! Mas ao fim de uma semana tinha os dentinhos todos no sítio, era uma maravilha, não fosse o metal todo lá dentro e eu tinha um sorriso pepsodent capaz de fazer inveja a qualquer anúncio desta marca de pasta dentífrica.
(Ainda hoje me pergunto porque usei 4 anos de tortura se ao fim de tão pouco tempo eles estavam certos.. mas depois comecei a entender... o dentista tinha que fazer render o peixe...)
Ora bem, ao fim de 4 anos, antes de ir para Erasmus, bati o pé. Os dentes estavam direitos, quis tirar o aparelho de tortura. Depois de algumas discussões com o dentista ("fica para a próxima, fica para a próxima"), o metal saiu da boca. Senti-me outra, confiante, bonita, com dentes certinhos. Claro que levei um aparelho em plástico para pôr durante a noite para os dentes de cima não mudarem de sítio, e em baixo puseram-me uma "contenção vitalícia".
Ora bem... o aparelho de plástico durou até ao Verão seguinte, quando fui escavar em Elvas. Não aguentou o ambiente arqueológico, que fraco!... Partiu-se em dois e uma das "dentolas", convencida que tem mais importância que a outra, começou a pôr-se em cima dela.
A contenção? Essa saltou-me esta semana, ao comer uma amêndoa... Agora tenho os dentes cheios de cola dura no lado de dentro, o que lixa a língua toda, é uma maravilha... E dois dentes, à semelhança da dentola superior, começaram a "cavalgar" outros dois dentinhos mais fracos, coitadinhos...
O meu ponto?...
O que nasce torto, tarde ou nunca se endireita! E os meus dentes são a prova disso.
Ah, se eu soubesse isso na escola primária... tinha-me poupado muito sofrimento, e a carteira da minha mãe tinha ficado um bocadinho mais recheada...
"Noscete ipsum"
Há 1 mês
2 clips:
LOL!
Foi por essas e por outras que eu nunca quis aparelho, apesar de ter mais dentes tortos do que direitos lol... :P
Bem, mas que história... Adorei ler, ri-me imenso =)
Obrigado por partilhares connosco =*
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