E de repente...
Fecho os olhos. Inspiro profundamente e obrigo-me a esquecer do mundo que me rodeia. Concentro-me apenas no bater do meu coração.
Em meu redor, uma sala cheia, um burburinho imenso, conversas cruzadas, uma tosse e um espirro, talvez um bebé a chorar.
Mas fecho os olhos e concentro-me.
Na minha cabeça, vou eliminando todos os sons. Penso na minha respiração, nos músculos que se contraem e se expandem cada vez que inspiro e expiro. Forço-me a visualizá-los.
Eis que já não oiço o bebé a chorar de fome e de sono.
Penso no meu coração, forço-me a olhar para ele enquanto trabalha mecanicamente.
Eis que já não oiço o senhor idoso a tossir nem aquela mulher grávida a espirrar.
Fecho os olhos e obrigo-me a encontrar aquele silêncio, a aniquilar aquela sala enorme, cheia de público.
Aos poucos, o negro silêncio vai cobrindo aquele espaço tão iluminado e tão barulhento.
Devagar. Eis que estou a chegar ao meu mundo. O burburinho ainda está lá, mas em mim vai-se esbatendo devagar e aos poucos.
Continuo a pensar na minha respiração. No meu coração. Obrigo-me a visualizar de antemão todos os movimentos que as minhas mãos vão fazer. Penso no que quero transmitir.
Inspiro lentamente e expiro lentamente. As conversas cruzadas já não me afectam.
Na minha mente, que atingiu o silêncio que eu tanto procurei, nascem novos sons. Nasce o que vou tocar.
Inspiro uma vez mais.
A sala está agora completamente muda, completamente calada.
Ao silêncio que nasceu ali, junta-se o apagar lento das luzes.
De repente, existo só eu.
Eu e o meu instrumento.
Tudo está calado, mudo, silencioso, expectante.
E de repente...
Como se já não fosse eu, mas sim alguém a guiar-me...
O silêncio é deliberadamente rompido, alguém pega nas minhas mãos e fá-las tocar.
E um novo silêncio, diferente, nasce naquele espaço.
Um silêncio apenas marcado pela minha música.
Sim... estou em silêncio... interpreto... estou em silêncio e em paz comigo mesma.
E quando acabo e a ovação do público é estrondosa, continuo a nada ouvir.
Estou no meu mundo, estou ainda a gozar a música, apenas essa ecoa na minha cabeça.
Tudo o resto é um filme mudo.
"Nosce te ipsum"
Há 1 mês
6 clips:
Tudo o resto deixa de existir...
Bravo!
Lampada: Obrigada! =) É como me tento sentir antes de tocar =)
EU sei o que isso é!
Olhos Dourados: É tão bom, não é??
Beijinhos
Está lindo o texto:)
Doggy: obrigada =)
Enviar um comentário